Portugueses e Portuguesas...

A equipa do Paraíso Fiscal é chamada ao Palco. O público aplaude. O JOÃO, jovem alto e espadaúdo, loiro, olhos azuis, veste um casado preto e uma t-shirt laranja com o superman, e tem um penteado novo. João está nervoso, mas disfarça. João sabe que não pode pôr as mãos nos bolsos de trás, porque da última vez não deu resultado. Pelo sim, pelo não desta vez, é melhor levar qualquer coisa escrita, não vá tudo descambar. JOÃO aproxima-se do microfone.

JOÃO
(com ar sério, como quem sabe o que está a fazer)
Portugueses e Portuguesas...

O Público sorri.

JOÃO
e Brasileiro...

O Público ri e bate palmas. O Brasileiro esboça um sorriso.

JOÃO
Descansem que não vou fazer um discurso político.
Pediram-me para dizer umas palavras sobre o que significava o cinema para mim. Há uns anos diria que é um sonho... há uns meses diria que era uma vontade... há uma semanas diria que era a realização... há uns dias diria que era muito cansaço... mas hoje posso dizer que não quero fazer outra coisa na vida....

O Público aplaude. Alguém grita "És um poeta!". JOÃO pensa "Não devia ter dito aos meus amigos para virem...".

JOÃO
Não vou falar muito sobre o "Paraíso Fiscal", apenas quero dizer que é uma comédia musical que se passa numa repartição das finanças, que é por si só já um sítio bastante cómico...

O Público ri. JOÃO pensa "Parece que está a resultar!!!".

JOÃO
(apontando para os colegas)
Foi um projecto muito ambicioso desta equipa, que contou com muitos apoios, e uma produção muito grande, na qual os actores trabalharem sem qualquer pagamento.

Mais aplausos! JOÃO pensa "Isto até é divertido... vou continuar mais um bocado!".

JOÃO
E queria fazer em nome de todos alguns agradecimentos... Queríamos agradecer à Católica... Não... Há Católica não...

O público reage de maneira estranha. Há caras surpreendidas, há quem aplauda. JOÃO pensa" Humm... acho que há alguém que me quer matar neste momento...".

JOÃO
Não perceberam... O que eu queria dizer é que não era à instituição, porque isso lembra-me sempre a roda azul com o senhor com o penteado punk, mas agradecer às pessoas da Católica.
Em primeiro lugar aos seguranças, que ainda ontem me bloquearam o carro...

O público ri-se....

JOÃO
... às empregadas da limpeza, que nos aturaram este tempo todo; a todos os funcionários: ao Jaime que nos ajudou imenso e me deu imensas oportunidades; ao Paulo "nunca pior"que aquele senhor ali em cima nos botões; à Mónica e à Sóraia, que são duas flores; à D. Cármen, uma simpatia, e ao Miguel do GAT: para os alunos dos primeiros anos posso dizer que ele começa a ficar simpático a partir do 3º, 4º ano...

O público ri-se mais uma vez.

JOÃO
Aos professores... que nos apoiaram, aos nossos orientadores, ao Álvaro... que ainda nos deve o dinheiro da rifa... (risos)

O público ri timidamente. JOÃO olha para ÁLVARO, mas desfia rapidamente o olhar ao perceber que ele não está com cara de bons amigos!

JOÃO
... e queria aproveitar para pedir desculpa em nome de alguns alunos do 5º ano pelas instalações do -3... queria agradecer à direcção e às pessoas que nos apoiaram, à Maria Lopes Cardoso, uma senhora com o coração do tamanho do mundo, e o professor Carvalho Guerra, o homem cujo nome deveria ser Carvalho Paz.

O Público aplaude.

JOÃO
Por fim a todos os actores, equipa técnica, aos patrocinadores e apoios, a todos os que nos ajudaram e às nossas famílias e amigos que tiveram de abdicar de nós por alguns meses para que isto fosse possível.
Obrigado e espero que gostem!

JOÃO volta para trás. O Público aplaude. Na cabeça de JOÃO cruzam-se pensamentos "Desta já me safei", "Será que me esqueci de alguém?", "Não demorei muito tempo, pois não?", "Xiii as coisas que eu fui dizer... estou tramado!".

MAFALDA avança agora para o microfone. Abana a cabeça com negação como quem diz "O que é que tu foste fazer".

JOÃO procura um buraco. Agora é que ia ser.